Impulsionados pela popularidade do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Partido dos Trabalhadores e o Partido Liberal têm o maior número de deputados federais que se colocaram como pré-candidatos às eleições municipais de 2024.
A relação dos nomes de cada legenda ainda deverá passar por alterações, uma vez que nem todos potenciais candidatos se colocaram na disputa nem ocorreram todas as conferências partidárias.
Além disso, algumas pré-candidaturas não deverão ser levadas adiante em meio às negociações e alianças que poderão ser firmadas regionalmente.
Feito a partir de informação dos próprios partidos, 48 dos 513 deputados foram listados como pré-candidatos. Um senador, Eduardo Girão (Novo-CE), também pretende participar das eleições.
Além de terem Lula e Bolsonaro como referências, PL e PT têm as duas maiores bancadas da Câmara —são 95 e 68 deputados, respectivamente.
Do total de deputados pré-candidatos, 36 são de siglas que integram a base do presidente Lula, sendo que 2 deles atuam como vice-líderes do governo na Câmara: Alencar Santana (PT-SP), que deve disputar o comando de Guarulhos (SP), e Rogério Correia (PT-MG), que mira a Prefeitura de Belo Horizonte.
O PT deverá contar com 10 deputados nas corridas municipais, enquanto o PL terá 9 parlamentares. Eles são seguidos por PSD (5 deputados), União Brasil (5), PDT (3), MDB (3), PSB (3), PSOL (3), PSDB (2), Republicanos (2), Cidadania (1), PV (1) e Rede (1).
PP, Avante, Patriota, Solidariedade e Podemos afirmaram não ter uma lista definida. O PC do B não deve ter candidatos.
As eleições municipais exercem influência direta no cotidiano parlamentar. Isso porque muitos deputados são eleitos com apoio de prefeitos, que, por sua vez, dependem do envio de emendas dos parlamentares para realização de obras nos municípios, além das transferências especiais (quando o recurso é enviado sem que se destine a um projeto específico).
Além disso, historicamente a Câmara fica mais esvaziada durante o processo eleitoral, com os deputados focados em atuar em seus redutos.
Segundo o levantamento, haverá embates entre esses deputados em sete municípios até o momento.
A disputa pela Prefeitura de São Paulo é a que deverá mobilizar o maior número de deputados federais: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Salles (PL), Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil).
Boulos conta com o apoio do PT e de Lula, após ter desistido de concorrer ao governo do estado em 2022, para apoiar o então candidato Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.
Em troca, o PT deverá ficar com a vaga de vice na chapa. A campanha do psolista aposta na atuação do chefe do Executivo como cabo eleitoral para impulsionar a candidatura.
Já Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, chegou a afirmar que não seria mais candidato após a direção do PL indicar apoio ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que buscará a reeleição. O partido não listou o nome de Salles como um de seus pré-candidatos.
Depois de voltar atrás da decisão, Salles agora deverá se filiar a algum partido para viabilizar sua candidatura. Apesar de gestos de Bolsonaro a seu ex-ministro no fim de 2023, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, disse em dezembro que tanto a legenda como o ex-chefe do Executivo irão apoiar a reeleição de Nunes.
Já Tabata deverá ter o apoio na disputa do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Ela negocia para que o apresentador José Luiz Datena seja seu vice —ele se filiou à legenda.
Kataguiri, por sua vez, não tem um padrinho político específico. Ele teve sua pré-candidatura lançada durante o congresso nacional do MBL (Movimento Brasil Livre), em novembro.
Segundo George Avelino, professor de ciência política da FGV, a polarização política entre Lula e Bolsonaro pode ter efeito nas eleições municipais de grandes cidades, mas não necessariamente em todos os municípios.
“Se você entrar na disputa apoiado por Lula ou Bolsonaro você vai levar vantagem em determinado município. Mas os pequenos estão querendo eleger pessoas que tenham padrinhos, deputados, que possam ajudar, já que dependem muito das transferências [de recursos]”, afirma.
“Os eleitores estão pensando mais pragmaticamente, quem é mais capaz de melhorar a minha vida. O prefeito está ali do lado, pode te ajudar, o presidente está longe”, completa o professor.
Segundo dados do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), 123 parlamentares (122 deputados e 1 senador) tinham se apresentado como pré-candidatos nas eleições de 2020. Ao final, ainda segundo o levantamento, 59 deputados e 2 senadores confirmaram suas candidaturas para o cargo de prefeito. Desses, 12 deputados foram eleitos em 2020.
Das 48 pré-candidaturas listadas até o momento para 2024, somente 9 são de mulheres. Esse cenário de sub-representatividade se reflete na própria Câmara: nesta legislatura, são 91 mulheres entre as 513 cadeiras.
Historicamente, há uma baixa representatividade em cargos eletivos nos Poderes Legislativo e Executivo no Brasil, assim como nos postos de lideranças de partidos políticos, apesar de as mulheres serem maioria da população.
Única mulher a integrar a mesa diretora da Câmara, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) é pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre. Ela afirma que a violência política de gênero ainda afasta mulheres do exercício político e que há um “desrespeito muito grande às mulheres na vida política nacional”.
“Só há uma candidatura a prefeito ou prefeita para cada partido na cidade. A escolha de uma mulher é ainda uma ousadia na vivência partidária, é preciso superar muitas barreiras”, afirma. Rosário diz que tenta construir uma aliança com outros partidos políticos, entre eles o PDT e a federação PSOL-Rede, e movimentos sociais e populares.
Para Fernando Rodolfo (PL-PE), que pretende se candidatar na cidade de Caruaru, o cenário consolida seu partido nacionalmente, e a polarização se tornou inevitável —pelo menos em sua região.
“As eleições em Caruaru sempre foram polarizadas, e em 2024 não vai ser diferente”, afirmou.
“Somos a única candidatura que vem se apresentando no campo da direita, enquanto as demais são ligadas à esquerda, inclusive o prefeito. O PL alcançou um resultado excepcional nas urnas em 2022, se tornando o maior partido do Brasil, e agora vamos confirmar isso, elegendo mais de mil prefeitos”, completou.
VEJA LISTA DE PRÉ-CANDIDATOS
PT
- Alencar Santana – Guarulhos (SP)
- Denise Pessôa – Caxias do Sul (RS)
- Dimas Gadelha – São Gonçalo (RJ)
- Maria do Rosário – Porto Alegre (RS)
- Rogério Correia – Belo Horizonte (MG)
- Waldenor Pereira – Vitória da Conquista
- Washington Quaquá – Maricá (RJ)
- Adriana Accorsi – Goiânia (GO)
- Natália Bonavides – Natal (RN)
- Zé Neto – Feira de Santana (BA)
PL
- Sargento Gonçalves – Natal (RN)
- Fernando Rodolfo – Caruaru (PE)
- Capitão Augusto – Bauru (SP)
- Rosana Valle – Santos (SP)
- Delegado Ramagem – Rio de Janeiro (RJ)
- André Fernandes – Fortaleza (CE)
- Gustavo Gayer – Goiânia (GO)
- Marcos Pollon – Campo Grande (MS)
- Abílio Brunini – Cuiabá (MT)
PSD
- Ricardo Silva – Ribeirão Preto (SP)
- Ricardo Guidi – Criciúma (SC)
- Luisa Canziani – Londrina (PR)
- Josivaldo – Imperatriz (MA)
- Delegada Katarina – Aracajú (SE)
União Brasil
- Coronel Ulysses – Rio Branco (AC)
- Paulinho Freire – Natal (RN)
- Nicoletti – Boa Vista (RR)
- Busato – Canoas (RS)
- Kim Kataguiri – São Paulo (SP)
MDB
- Otoni de Paula – Rio de Janeiro (RJ)
- Fabio Teruel – Osasco (SP)
- Rafael Brito – Maceió (AL)
PDT
- Duda Salabert – Belo Horizonte (MG)
- Marcos Tavares – Duque de Caxias (RJ)
- Max Lemos – Queimados (RJ)
PSB
- Luciano Ducci – Curitiba (PR)
- Duarte Jr. – São Luís (MA)
- Tabata Amaral – São Paulo (SP)
PSOL
- Guilherme Boulos – São Paulo (SP)
- Tarcísio Motta – Rio de Janeiro (RJ)
- Talíria Petrone – Niterói (RJ)
PSDB
- Beto Pereira – Campo Grande (MS)
- Daniel Trzeciak – Pelotas (RS)
Republicanos
- Ricardo Ayres – Palmas (TO)
- Antonio Andrade – Porto Nacional (TO)
PV
- Aliel Machado – Ponta Grossa (PR)
Cidadania
- Alex Manente – São Bernardo do Campo (SP)
Novo
- Senador Eduardo Girão – Fortaleza (CE)
Rede
- Túlio Gadelha – Recife (PE) /Folha SP
(Foto reprodução)