A Polícia Federal cita como prova da atuação de Carlos Bolsonaro (Republicanos) na chamada “Abin Paralela” uma mensagem em que uma assessora do vereador pede para a Alexandre Ramagem que levante informações sobre investigações contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos.
Ramagem, hoje deputado federal e também alvo das investigações da PF, foi chefe da Abin no governo Bolsonaro e é próximo à família do ex-presidente da República.
Na mensagem, de 2020, a assessora Luciana Almeida diz: “Bom diaaaa Tudo bem? Estou precisando muito de uma ajuda”. Depois, ela envia outra mensagem com referência a um inquérito. “Delegada PF. Dra. Isabella Muniz Ferreira – Delegacia da PF Inquéritos Especiais Inquéritos: 73.630 / 73.637 (Envolvendo PR e 3 filhos).”
Carlos Bolsonaro e a assessora foram alvos de busca e apreensão nesta segunda (29) em nova operação da PF para avançar nas investigações sobre a “Abin Paralela” durante o governo de Bolsonaro.
“A solicitação da ‘ajuda’ se referia a investigações que envolveriam filhos do então presidente da República e deste mesmo. A autoridade representante enxerga no episódio o recurso do que chama de núcleo político do grupo ao dr. Ramagem, para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”, diz trecho da manifestação da Procuradoria-geral da República sobre o pedido de busca da PF.
Para a PF, a busca contra Carlos Bolsonaro e sua assessora Luciana Almeida era necessária para “identificar os reais responsáveis pelo desvirtuamento da Abin.”
Ainda de acordo com o pedido da PF, a solicitação de ajuda “relacionada à Inquérito Policial Federal em andamento em unidades sensíveis da Polícia Federal indica que o núcleo político possivelmente se valia do delegado Alexandre Ramagem para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”.
A PF também cita no pedido outra passagem em que Ramagem teria atuado para favorecer a família Bolsonaro na Abin.
Segundo trecho da decisão de Moraes, em fevereiro de 2020, O então diretor da Abin teria imprimido um relatório com “informações de inquéritos eleitorais em curso na Polícia Federal que listavam políticos do Rio de Janeiro.”
As medidas cumpridas nesta segunda-feira têm como objetivo “avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [Agência Brasileira de Inteligência]”.
No gabinete de Carlos, no Rio, os agentes levaram um notebook, computadores desktop e documentos. Já na casa da família em Angra dos Reis (RJ) o celular e um outro computador de Carlos foram apreendidos pela PF.
Relatórios produzidos pela agência sob Bolsonaro e o uso do software espião First Mile estão no centro da investigação da PF.
Os investigadores afirmam que oficiais da Abin e policiais federais lotados na agência monitoraram os passos de adversários políticos de Bolsonaro e produziram relatórios de informações “por meio de ações clandestinas” sem “qualquer controle judicial ou do Ministério Público”.
O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não permite os chamados “grampos”, como acesso a conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.
Além de Carlos, os policiais também investigam suposto uso da agência para favorecer Flávio e Jair Renan.
Em live neste domingo (28), ao lado dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, Bolsonaro negou que tenha criado uma “Abin paralela” para espionar adversários. Já nesta segunda o ex-presidente disse à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que a intenção da operação é a de “esculachar” com ele e sua família.
“Querem me esculachar, me fazer passar por constrangimento”, diz ele. “Estão jogando rede, pescando em piscina. Não tem peixe”, completou Bolsonaro.
(Fabio Serapião e Ranier Bragon/Folhapress)
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