Economia
Candice Machado
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A pandemia de covid-19 atingiu todo o mercado global com questões como isolamento social, restrições à mobilidade da mão de obra, ruptura de cadeias de suprimentos e de fornecimentos, entre outros impactos. O setor hoteleiro foi um dos mais afetados pelas necessárias medidas restritivas e de controle da crise sanitária. Mais de 3 mil hotéis e pousadas encerraram suas atividades, somente em 2020, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Após três anos lidando com consequências e instabilidades geradas pelo colapso sanitário, o que a hotelaria espera para o futuro, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declara o fim da pandemia em 2023? A pesquisa Orçamentos Hoteleiros 2024, desenvolvida pela Noctua Advisory, aponta um cenário otimista para o novo ano, embora os números ainda não tenham ultrapassado o período pré-pandêmico.
Em relação à ocupação hoteleira, por exemplo, o levantamento mostrou que a América do Sul e Central registraram crescimento de 5% em relação ao ano de 2019, porém, as outras regiões apresentaram redução: América do Norte, Ásia, Pacífico e África (-4%) e Europa (-5%). “A América do Sul, como um todo, teve uma forte melhoria no pós-pandemia, principalmente no mercado doméstico. O mercado interno é um forte combustível para o nosso setor”, avalia o gerente geral do Hotel Gran Marquise, Philippe Godefroit.
A potência do mercado brasileiro também pode ser percebida por meio dos dados referentes à oferta aérea. De acordo com a pesquisa, o turismo para fora do Brasil ganha tração, mas ainda não supera o período pré-pandêmico. A aviação internacional atingiu a marca de 93% frente a 2019. Contudo, a oferta aérea nacional supera os níveis anteriores à crise sanitária em 105%.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Ceará (ABIH-CE), Régis Medeiros, a estabilidade geopolítica e características culturais específicas da América Latina fortalecem esse potencial. “A gente aqui, na América do Sul, na América Central, se encontra mais distante de conflitos territoriais e geopolíticos que afetaram outras regiões nos últimos anos. Além disso, temos esse potencial gigante, praias, temperatura e um povo maravilhoso, muito acolhedor. Tudo isso é muito atrativo”, avalia.
O momento é de expansão
Podemos afirmar 2023 fica marcado pelo retorno aos tempos pré-pandêmicos, avalia Godefroit. “Isso nos estimula para 2024, e o Gran Marquise já projeta um crescimento que deve variar entre 7% e 10%. A melhoria e ampliação da malha aérea de Fortaleza seria um elemento importante para alavancarmos ainda mais a ideia de crescimento na hotelaria local”, observa.
“A pandemia ficou para trás”, concorda Régis Medeiros. “A gente tem margem para expansão na rede hoteleira do Ceará como um todo. E isso já vem acontecendo. Em Fortaleza, há projetos de hotelaria para a Praia do Futuro, mas também novos hotéis surgem no nosso litoral, pequenos hotéis de charme, com valor agregado, 12 ou 15 apartamentos, mas que não são divulgados”, diz o presidente da ABIH-CE.
A pesquisa destaca que o segmento de lazer puxa a fila da recuperação (24% frente a 2019), enquanto o segmento corporativo segue inferior aos níveis pré-pandêmicos. Nos resorts, os incrementos de receita superam a inflação em até 30%, ante 2019.
Segundo Godefroit, esse dado também se confirma na economia cearense. “O Ceará inteiro cresceu na oferta dos produtos de lazer. Desde o litoral leste até o Cariri. O Kitesurf é um produto inegável da nossa força natural e da prática dos esportes com vento”, aponta.
Com relação ao setor hoteleiro cearense, ele ainda destaca o retorno intenso do mercado corporativo. “Multinacionais e grandes empresas brasileiras voltaram aos seus treinamentos, encontros comerciais e alinhamentos motivacionais. Inclusive, por tudo isso, vamos entregar nosso maior salão de eventos, todo novo e remodelado, em 2024”, acrescenta o gerente geral do Gran Marquise.
Desafios
Quanto aos desafios que devem ser acompanhados de perto, a pesquisa da Noctua Advisory destaca seis pontos: corporativo de grandes empresas segue abaixo de 2019; folha de pagamento deve crescer acima da inflação; economia precisa voltar a crescer; multipropriedades podem afetar o desempenho dos resorts; lazer internacional tende a diminuir a pressão de demanda doméstica; e necessidade de renovar os hotéis.
“Os desafios existem e devem ser encarados com naturalidade”, pondera Godefroit, que vê com otimismo o momento econômico. “A economia dita naturalmente o setor hoteleiro. Nossa expectativa é de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e do Ceará. Um fator que favorece o setor de serviços, principalmente o nosso que tem um produto de ponta”, afirma.
Quanto ao setor local, o gerente geral do Hotel Gran Marquise ressalta recentes obras de revitalização e a consolidação de equipamentos públicos prontos para receber grandes eventos internacionais. “A nova Beira-Mar é bonita, de uso plural e bem mais segura. Também podemos destacar a maturidade e o reconhecimento do Centro de Eventos do Ceará em plano nacional”, reforça.
Para Régis Medeiros, outro gargalo é o mercado aéreo doméstico, que, apesar de dinâmico, ainda encontra-se muito caro. “Temos poucos assentos de avião e valores muito elevados neste pós-pandemia. Ainda não voltamos aos valores anteriores. Precisamos de mais oferta, de mais companhias aéreas, mais concorrência para termos melhores tarifas. Além de incentivos, principalmente com relação ao combustível. As companhias aéreas são fundamentais para a movimentação do turismo e das pessoas no País”, explica.
O presidente da ABIH-CE ainda destaca que é preciso investir em ESG (ambiental, social e governamental, na sigla em inglês). “Sustentabilidade, sem nenhuma dúvida, faz parte também da decisão daqueles que se deslocam no mundo de hoje”. Porém, ele aponta a violência como o desafio mais duro a ser encarado. “Infelizmente, esse ainda é um desafio muito grande no Brasil, mas os potenciais do setor são inúmeros, temos um País maravilhoso, uma população volumosa e toda a condição para crescer”, reforça.