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Do físico ao digital: novos hábitos de consumo redefinem o mercado da moda


De seu ateliê, em Fortaleza, a chapeleira Jomara Cid já produziu peças para diversos famosos (Fotos: Edimar Soares)

Candice Machado
economia@ootimista.com.br

Jomara Cid, 39, é chapeleira há 11 anos. De seu ateliê, em Fortaleza, a artista já produziu peças exclusivas para personalidades como os cantores Wesley Safadão e Claudia Leitte e a apresentadora Sabrina Sato. No espaço também são criados itens para pronta entrega, que clientes locais e de outras regiões podem adquirir pelo e-commerce ou na loja física. A produção de chapéus encontrou Jomara quanto ela ainda era estudante de moda, por acaso, durante uma atividade universitária, mas ali surgiu uma paixão.

“A chapelaria me proporcionou um contato profundo com a arte e com a história da indumentária, algo que sempre me fascinou. Também me deu oportunidade de realizar um sonho de menina, que era trazer algo novo para o mundo”, conta.

Somente mais tarde, o segmento provou ser uma área promissora. Com raros especialistas, a chapelaria integra um dos setores mais importantes do País. A moda nacional é o nono maior mercado de roupas e acessórios do planeta, segundo a Pesquisa Consumo de Moda no Brasil (PCMB) 2023, realizada em novembro passado pelo instituto Opinion Box.

Cláudia Buhamra, professora universitária e doutora em administração de empresas, diz que é possível perceber a importância do segmento da moda pela extensão da cadeia produtiva que o setor envolve.

“O algodão, por exemplo, vem do produtor, passa pela indústria de fiação, depois pela fabricação do tecido, segue para indústria de roupas, vai para o varejo e então para o consumidor final. Só pelo tamanho dessa cadeia, é possível perceber a quantidade de empregos e de geração de valor que o segmento representa”, observa ela, que também é pesquisadora em comportamento do consumidor e sustentabilidade.

Dados do Relatório Rio Ethical Fashion (REF) 2021 mostram que a moda gera cerca de 9 milhões de empregos diretos e indiretos somente no Brasil, movimentando US$ 1,5 trilhão por ano em todo o mundo.

Transformações

O hábito de consumo de moda vem se transformando ao longo do tempo. A PCMB 2023 revelou que o avanço da tecnologia e o período pós-pandêmico influenciaram na forma como as pessoas adquirem roupas, sapatos e acessórios.

O estudo inédito mensurou essas transformações a partir de entrevistas com 2.172 pessoas de todas as regiões do País, sendo 47% homens e 53% mulheres. Do total, 51% compram itens de moda pelo menos uma vez ao mês, 16% integram as classes AB, enquanto 84% compõem as classes CDE. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.

“O consumo de moda mudou completamente depois da pandemia de covid-19. Antes, o nosso online era direcionado para as pessoas que moravam fora de Fortaleza. Hoje em dia, moradores locais estão consumindo muito por meio digital. Diria que o online, na pronta entrega, ultrapassou o presencial”, afirma Jomara Cid.

De acordo com a PCMB 2023, 66% dos consumidores de moda preferem comprar de forma online. A pesquisa destaca que o comportamento foi assimilado durante a crise sanitária, quando muitas pessoas começaram a comprar online ou aumentaram a frequência. Ainda assim, parte do público ainda prefere o consumo presencial.

“A minha produção conceitual, a alta chapelaria, é feita sob medida, então 90% dos clientes ainda estão na loja física”, acrescenta a chapeleira. Segundo o estudo do Opinion Box, 8% dos consumidores preferem fazer compras de moda em lojas físicas de luxo. Outros 53% escolhem lojas físicas de departamento, lojas físicas de vendedores locais (43%), outlets (17%), redes sociais (14%), brechós (10%) e feiras de moda (8%).

Impacto

Jomara relata que o aumento das transações digitais alterou hábitos de consumo no próprio mercado. “A gente precisou se adaptar, e o consumidor também aprendeu a comprar com essa comodidade. Aprendeu a pesquisar e tirar dúvidas, o que é muito importante no consumo online”, acrescenta.

Conforme a PCMB 2023, os fatores que mais influenciam na decisão de comprar moda online são: preços competitivos (59%), comodidade de comprar em casa (47%), variedade de produtos (41%), opiniões e avaliações de outros compradores (24%), segurança e confiabilidade do site (24%) e facilidade de devolução ou troca (14%).

A ênfase nos hábitos de consumo digital exige transformações dos negócios de moda. “Nós mudamos muitas coisas. Mais pessoas tiveram que ir para o site, o WhatsApp precisa ter catálogos, com uma pessoa atendendo de imediato. É preciso ter serviço de entrega, investir em logística”, conta a chapeleira.

Para Cláudia Buhamra, o desafio dos negócios de moda está exatamente em ofertar essa logística integrada entre atendimento físico e digital, o chamado omnichannel.

“O cliente atual transita entre concreto e digital, compra online e quer retirar na loja, ou faz um pedido no físico, mas opta por receber em casa. É necessário oferecer informações e atendimento. Se eu puder resumir em uma dica seria: prepare o seu pessoal para ouvir o cliente, e a sua tecnologia, por mais simples que seja, para registrar demandas e buscar atendê-las”.

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