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Brasil precisa incentivar a força de trabalho jovem para crescer nos próximos anos


Lorena Freitas, de 27 anos, tem uma confeitaria e investe parte da renda em capacitação profissional (Foto: Edimar Soares)

Candice Machado
economia@ootimista.com.br

Lorena Freitas, 27 anos, decidiu empreender em 2018, quando seu segundo filho, Arthur, completou 4 meses, e a família precisou incrementar seus ganhos. “Vi a necessidade de ter uma renda, nossos gastos eram muito altos, porém não tinha ninguém para cuidar das crianças, então decidi empreender”, conta a jovem sobre o nascimento da confeitaria Bolos da Lory. “Eu tinha um liquidificador e um sonho”, brinca, rememorando o início difícil.

Ela começou produzindo bolos de marmitas. Com o rendimento inicial e a ajuda de amigos, investiu em cursos e na compra de material para fazer as mercadorias. “Eu não tirava um real para mim, fui montando tudo com muito esforço”, acrescenta. A confeitaria cresceu, ganhou clientes, espaço físico e ainda permitiu que a família investisse em uma residência maior.

“Conseguir conciliar a maternidade e a confeitaria não foi fácil. Mas estamos na luta. Hoje, eu consigo ajudar minha família financeiramente e também estar presente na rotina dos meus filhos, principalmente do Yan, que tem terapias e fonoaudiologia semanalmente”, observa.

Yan Lucca, 6 anos, o filho mais velho da empreendedora, recebeu laudo de autismo nível 1 em 2023. Naquele momento, foi preciso fechar a loja física. “Foi um grande desafio, um processo muito doloroso, ter que abrir mão de um sonho pessoal, mas não me arrependo, foi por um bem maior”. Hoje, a confeitaria continua atendendo por delivery. “Eu poderia ter desistido, mas a confeitaria pulsa no meu coração. Os meus filhos são meu maior incentivo para não desistir”, observa.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica como jovens a faixa etária que vai de 15 a 29 anos. Lorena integra a porção com idade entre 25 e 29, considerada o ponto de inserção produtiva (PIP), já que o restante ainda é dependente (15 a 17 anos) ou está em processo de emancipação (18 a 24 anos). É nessa faixa de PIP que costuma ocorrer a transição para o mercado de trabalho, onde mais de 70% estão ocupados.

Porém, em 2022, o Brasil alcançou a marca de 10,9 milhões de jovens fora das escolas e do emprego, dos quais 36,45% tinham entre 25 e 29 anos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), publicada em dezembro.

A inserção produtiva dessa parcela poderia levar a um ganho de 10 pontos percentuais no potencial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ao longo dos próximos 30 anos. E o investimento nas mulheres dessa população poderia incrementar esse ganho potencial em mais 7 pontos, segundo projeções do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).

Mulheres NeNo: força inexplorada

De acordo com o estudo realizado pelo IMDS em outubro de 2023 sobre a inserção dos jovens na sociedade brasileira, as mulheres costumam ser mais escolarizadas do que os homens, e o percentual de abandono da escola ainda é maior entre eles. Na faixa dos 25 a 29 anos, uma taxa de 9,3% das mulheres não terminaram o fundamental, 41,3% concluíram o ensino médio e cerca de 35,4% possuem o ensino superior ou mais.

Entre os homens da mesma faixa, o índice dos que não completaram o fundamental sobe para 14.8% e cai entre os que concluíram o ensino médio 40,8% e os que alcançaram formação superior ou mais (26,5%).

Apesar disso, “a taxa de participação de homens no mercado de trabalho é maior que a das mulheres em todas as faixas etárias”, diz a publicação do IMDS. Na faixa de 25 e 29 anos, 90% dos homens participam da força de trabalho, contra 70% das mulheres.

Considerando que a participação dos jovens no mercado de trabalho aumenta conforme completam as etapas de ensino, investir em mulheres na condição de NeNo (jovens que não estudam e não estão ocupados, anteriormente chamados de Nem-Nem) pode melhorar o nível de escolaridade geral e, consequentemente, reduzir a perda do potencial de crescimento do PIB, explica o diretor-presidente do IMDS, Paulo Tafner.

Mulheres são as mais afetadas

Estatísticas revelam que o déficit em estudo e trabalho afeta sobretudo as mulheres. A soma de jovens pretas e pardas na categoria NeNo chega a 4,7 milhões de brasileiras, o que representa 43,3% do total de jovens afastados do trabalho e do estudo. Considerando todas as mulheres, o número sobe para 7 milhões, representando 63,4% do total de jovens NeNo.

Dessas, 2 milhões estavam cuidando de parentes e dos afazeres domésticos, segundo a Pnad Contínua. No Ceará, de acordo com o estudo do IMDS, 45,5% das mulheres pretas e pardas na faixa 25 a 29 anos são NeNo, contra 22,4% de homens pretos e pardos. No total, esse índice é de 42%, contra 23% de homens.

A situação das mulheres NeNo reflete a desigualdade estrutural na sociedade brasileira, conforme destacado por João Mário Santos de França, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (Caen/UFC).

“A Pnad Contínua mostra maior presença de pretos e pardos na pobreza, resultando em menor formação e empregos com salários baixos. Mulheres, especialmente as pretas e pardas, enfrentam desafios como a gravidez na adolescência, principal causa do abandono escolar, repercutindo na inserção ao mercado e no envolvimento com trabalhos domésticos e de cuidadoras. Elas trabalham, mas não são reconhecidas nas estatísticas”.

Entre jovens de 18 a 24 anos, apenas 13% alcançam o nível superior quando seus pais não completam o ensino médio (Foto: Element5 Digital)

Sem estudo e sem ocupação: o impacto do ciclo de pobreza na juventude

Dados do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), de outubro de 2023, mostram que o histórico de pobreza aliado às consequentes baixa formação, dificuldade de entrada no mercado de trabalho e pouca experiência levam a salários mais baixos para os jovens. Apenas 4,6% das crianças consideradas pobres em 2005 conseguiram concluir o ensino superior, sendo que pouco mais de 15% dos jovens que cresceram em situação de pobreza alcançaram remuneração maior que dois salários mínimos.

Considerando a faixa etária entre 18 e 29 anos, mais de 64% daqueles que não completaram o fundamental recebem até um salário mínimo. Essa taxa cai para 46,7% entre os que têm ensino médio completo, e para 16,6% entre aqueles com superior completo ou mais. Nessa última parcela de formação, 51,2% recebem acima de dois salários mínimos.

Esse ciclo parece ser continuamente reproduzido, visto que, segundo a pesquisa, a maior escolaridade dos pais reflete em maior escolaridade dos filhos. Entre jovens de 18 a 24 anos, apenas 13% alcançam o nível superior quando seus pais não completam o ensino médio.

Primeira infância

Segundo João Mário Santos de França, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (Caen/UFC), para quebrar esse ciclo, é fundamental ter um olhar especial para as crianças da primeira infância, em situação de vulnerabilidade social.

“As experiências vividas nessa fase têm impactos durante toda vida. É fundamental que essa criança tenha acesso a educação, saúde e estímulos para seu desenvolvimento psicossocial, cognitivo e das conexões neurais”. Para o professor, existe uma experiência exitosa com o Cartão Mais Infância Ceará, mas o Brasil segue sem políticas públicas específicas para os jovens que não estudam e não estão ocupados.

Além disso, o economista considera ser fundamental investir na transição do ensino fundamental para o médio, onde o abandono escolar começa a surgir. “É importante tornar o ensino médio mais atraente, em maior sintonia com as demandas atuais e futuras do mercado de trabalho”, observa. “Por fim, é necessário investir na requalificação do jovem que já concluiu o ensino médio, mas tem dificuldades em acessar um emprego, devido às deficiências de formação e construção de habilidades compatíveis com as demandas do mercado”, reforça.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um total de 10,9 milhões de jovens brasileiros não estudam e não estão ocupados com trabalho. Esse grupo, denominado de NeNo, anteriormente chamado de “Nem-Nem” (nem estuda e nem trabalha), considera a população com idade entre 15 e 29 anos e corresponde a 22,6% do total dessa parcela. Ainda conforme a Pnad Contínua, no Ceará, cerca de 672 mil cearenses estão na condição de NeNo, o que representa 30,6% ou três em cada dez jovens do Estado.

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