Outros parlamentares citam em conversas reservadas que também tiveram contato com mobilizadores dos acampamentos golpistas em frente a quarteis generais após a eleição de 2022. Se esse for o parâmetro, dizem, também podem sofrer com ações policiais
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) saíram em defesa do deputado Carlos Jordy (PL-RJ), alvo de operação da Política Federal nesta quinta-feira (18), e reforçaram as críticas ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes –que autorizou medidas de busca e apreensão contra o parlamentar.
A análise de pessoas próximas ao ex-mandatário é a de que a ação da Polícia Federal ajuda a consolidar a polarização no país e o discurso de perseguição contra bolsonaristas por parte do magistrado. Apesar do diagnóstico de que a ação não tem grande impacto na imagem do grupo político encabeçado por Bolsonaro, a operação teve o efeito de espalhar medo entre aliados do ex-presidente.
Outros parlamentares citam em conversas reservadas que também tiveram contato com mobilizadores dos acampamentos golpistas em frente a quarteis generais após a eleição de 2022. Se esse for o parâmetro, dizem, também podem sofrer com ações policiais. O temor foi ampliado pelo fato de o celular de Jordy ter sido apreendido, além de outros documentos que estavam em seus endereços. Como o deputado é líder da oposição na Câmara e tem bom trânsito com toda base bolsonarista, a PF pode ter acesso a diálogos dele com a maioria dos integrantes oposicionistas da Casa.
Aliados de Bolsonaro usaram as redes sociais para criticar a operação e defender Jordy. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é o integrante da família que tem relação mais próxima com o Judiciário e em alguns casos evita criticar o Supremo, classificou a operação como “óbvia perseguição política combinada com sorriso de vingança no canto da boca”. “A forma como essa investigação está sendo conduzida é muito mais ‘lesa pátria’ que o próprio 8 de janeiro. A continuidade dela, além de autoritarismo e arrogância, é o mesmo que querer culpar a mulher que foi estuprada, ou seja, quem defende a democracia passou a ser o errado”, escreveu nas redes sociais.
O deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro de Bolsonaro, disse que a operação contra Jordy é “grave e inaceitável” por ser busca e apreensão em gabinete de um deputado federal eleito. “Essa decisão monocrática constitui uma verdadeira afronta ao Poder Legislativo e fragiliza a já abalada harmonia entre os Poderes”, declarou. Carlos Jordy foi alvo da Operação Lesa Pátria, destinada a identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os ataques às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. A ação foi autorizada por Moraes e teve parecer favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Telefonemas e mensagens de um organizador de atos golpistas em Campos dos Goytacazes (RJ) motivaram o magistrado a autorizar buscas e apreensões da PF em endereços do deputado. Segundo a PF, foram descobertos, a partir de informações obtidas em fases anteriores da operação, indícios de “fortes ligações” entre o vereador suplente da Câmara Municipal de Campos Carlos Victor de Carvalho, conhecido como CVC, e Jordy. Carlos Victor organizava ao menos 15 grupos de WhatsApp com mensagens de teor golpistas, além de manifestações antidemocráticas.
Segundo a PF, há sinais de que Jordy orientava CVC e “tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”. Para isso, citam uma mensagem de CVC ao deputado em 1º de novembro de 2022, quando ocorria bloqueios de rodovias em todo o Brasil após a vitória de Lula (PT) na disputa eleitoral pela Presidência. “Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo”, disse CVC a Jordi. O deputado respondeu: “Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?”.
CVC, então, disse: “Posso irmão. Quando quiser pode me ligar”.
Ao todo, foram cumpridos dez mandados de busca no Rio de Janeiro (8) e no Distrito Federal (2). O deputado prestou depoimento nesta quinta na sede da PF no Rio. “Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa e incitação ao crime”, informou a PF em nota. (Matheus Teixeira/Folhapress)
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